05
2025
Laboratório da UFGD desenvolve bioinseticida que controla pragas em hortas
Após 12 anos de estudos contínuos, o trabalho desenvolvido pela professora Rosilda Mara Mussury Franco Silva, coordenadora do Laboratório de Interação Inseto-Planta, está transformando a realidade de agricultores familiares no sul de Mato Grosso do Sul. A pesquisa, que resultou no desenvolvimento de bioinseticidas à base de plantas do Cerrado e Matas da região, está permitindo que produtores cultivem hortaliças de forma totalmente agroecológica, com baixo custo de produção, maior rentabilidade, alternativa segura e acessível e alimentos mais saudáveis para o consumidor.
Desde 2013, a professora e sua equipe vêm investigando o potencial inseticida de mais de 40 espécies vegetais nativas, realizando análises para verificar tanto a eficácia no controle de pragas quanto a segurança para animais e seres humanos. “Como estamos em uma área de transição entre Mata e Cerrado, eu imaginava que existissem plantas com propriedades inseticidas ainda pouco exploradas. Tudo começou com a curiosidade e com o olhar atento dos nossos alunos e dos agricultores rurais”, conta Mara.
A interação com os agricultores foi determinante para o sucesso do projeto. Durante as coletas de campo, os agricultores frequentemente apontavam as espécies que “nenhum inseto comia”. Muitas dessas plantas, posteriormente analisadas em laboratório, apresentaram efetividade entre 70% e 100% no controle de pragas, superando o índice mínimo de 50% exigido para serem consideradas promissoras como bioinseticidas.
Além de descobrir espécies altamente eficazes, ao longo dos anos o grupo aprimorou as técnicas de extração, priorizando métodos sustentáveis. O laboratório utiliza apenas folhas e, em algumas espécies, cascas de caules, evitando danificar as plantas. “Trabalhamos sempre para preservar o meio ambiente e manter o equilíbrio ecológico. Nossos extratos são aquosos, ou seja, feitos à base de água, para que o produtor possa preparar e aplicar com segurança”, explica a pesquisadora.
Os resultados dos testes demonstraram que os extratos botânicos têm vantagens significativas em relação aos defensivos químicos: não contaminam o solo e a água, não causam resistência nos insetos e não prejudicam polinizadores e inimigos naturais. A equipe realiza experimentos com mariposas, percevejos e carunchos — pragas que afetam diversas lavouras — e alcançou índices de controle superiores aos esperados. De acordo com a professora, são necessários muitos testes, com diferentes dosagens, para que se conheça efetivamente as propriedades dessas plantas e a maneira como elas afetam os sistemas biológicos das pragas de plantas. Para isso, o trabalho da professora Mara envolve uma grande equipe formada por estudantes de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado, com apoio das coordenadoras de laboratório e de campo, Silvana Aparecida de Souza e Andressa Caroline Foresti, respectivamente. Os recursos vêm de diferentes editais de fomento, como o PAP/UFGD, PAPUA, bolsa de produtividade do CNPq, Itaipu Parquetec/Binacional, FUNDECT, e Projeto CDR, que garantem a compra de insumos e a manutenção do laboratório.
Aplicação em hortas já é realidade
Depois de anos de experimentos e análises de toxidade, os bioinseticidas começaram a ser aplicados em hortas reais apresentando resultados excelentes. Na Escola Nova Itamarati, por exemplo, todas as verduras e legumes consumidos pelos alunos são cultivados com o uso dos bioinseticidas desenvolvidos pelo grupo. “A horta da escola é totalmente agroecológica. O alimento que sobra da merenda é doado às famílias do assentamento, o que reforça a segurança e o valor social do nosso trabalho”, destaca a professora.
A professora Mara enfatiza que o sucesso da pesquisa é fruto de curiosidade científica, persistência e cooperação. “Chegar a um resultado como esse exige muitos anos de tentativas e erros, com o envolvimento de vários alunos e o apoio dos agricultores. Cada descoberta nasce de um olhar atento e do trabalho coletivo.”
Os bioinseticidas naturais desenvolvidos no laboratório representam um marco para a produção agroecológica. Após anos de persistência e investimentos, o projeto demonstra que é possível unir ciência, sustentabilidade e agricultura familiar.
Jornalismo ACS/UFGD


